É inevitável não mencionar o Caminho do Meio ao falar sobre Budismo. Afinal, ele é o guia das práticas aplicadas às nossas vidas.
Tendo isso em vista, não é preciso levar uma vida monástica e se tornar um monge ou, tal qual Buda, abdicar títulos e bens para alcançar a iluminação. Ao trilhar a sua jornada, Siddhartha Gautama nos deixou não só um legado e exemplo a seguir, mas a receita para tornar possível a experiência de ter uma vida zen.
Nesse sentido, a forma com que se aplica essa receita no dia a dia, na vida, faz toda diferença. E é aqui que entra o entendimento do Decor Zen como uma ferramenta poderosa de transformação.
Não se trata apenas de incluir estatuetas de Buda meditando e outras artes budistas como Leões Fu na decoração dos ambientes. É traduzir em um arranjo estético a proposta de equilíbrio do Caminho do Meio, de modo que este influa em como se sente, conduzindo-o ao divino que há em você.
Trilhando o Caminho do Meio budista
Antes de se iluminar e se tornar Buddha, o príncipe Siddhartha empenhou grande esforço mental para suprimir as aspirações do corpo e da mente. Este período ascético foi de extremo rigor e quase o matou.
Assim, ele compreendeu que forçar o seu corpo e a sua mente ao extremo não o ajudaria a evoluir, momento o qual passou a se guiar pelo equilíbrio - dando origem ao Caminho do Meio, o qual viria a ensinar utilizando como método o “Nobre Caminho Óctuplo” ou “Caminho do Dharma”, que é divido em três grupos:
O primeiro, sabedoria (pañña), contempla o “Entendimento Correto” (samma ditthi) e a “Aspiração Correta” (samma sankappa). Pañña, portanto, mostra que para trilhar o Caminho do Meio é necessário desenvolver a sua percepção, utilizando a sabedoria para purificar a mente das ilusões do Ego.
O segundo, por sua vez, diz respeito à moralidade (sila). Assim, ao agrupar a “Linguagem Correta” (samma vaca), a “Ação Correta” (samma kammanta) e o “Meio de Vida Correto” (samma ajiva), sila nos ensina a importância de lapidar a nossa conduta, agindo de forma ética e construindo virtudes para se abster de ações nocivas.
Já o terceiro grupo, concentração (samadhi), figura o “Esforço Correto” (samma vayama), a “Atenção Plena” (samma sati) e a “Concentração Correta” (samma samadhi). Assim, samadhi destaca importância da meditação, do domínio sobre a mente.
O conceito da arte budista na decoração
A arte budista foi, ao longo dos séculos, essencial para a disseminação do Budismo enquanto cultura e a transmissão de seus conhecimentos. Não obstante, cada elemento presente em estatuetas e iconografias de Shakyamuni Buddha foram a materialização de valores simbólicos da prática espiritual.
Nesse sentido, imagens como a Mão de Buda, os Leões Fu, a cabeça de Buda e sua postura em pé ou sentado, em meditação, apresentando gestos com as mãos - tal como o Abhaya Mudra -, fez com que a filosofia budista adentrasse mais facilmente no cotidiano das pessoas.
A arte, portanto, se tornou para o budismo, uma facilitadora de caminhos. A grande condutora dos oito passos presentes no Caminho do Meio em todas as vertentes do Budismo: Theravada, Mahayana e Vajrayana.
Assim, enquanto o Budismo Theravada trouxe representações do Buda Tailandês, enriquecidas de elementos simbólicos, como o ushnisha (protuberância no topo da cabeça), de modo a representar a sabedoria de um ser iluminado; o Budismo Vajrayana incorporou ao repertório budista a figura de Tara Tibetana, como a emanação feminina de Buddha.
A representação búdica feminina também se faz presente no Budismo Mahayana, por meio de Kuan Yin - a personificação da compaixão, tal qual Avalokiteshvara. Nessa vertente também encontramos figuras simbólicas como o trio de monges da justiça, cego, surdo e mudo, que traduzem o provérbio “não veja o mal, não ouça o mal e não fale o mal”.
Criando espaços iluminados inspirados no Budismo
Já parou para pensar que todo templo budista apresenta inúmeras esculturas de Buda somadas à sua arquitetura? Com a perspectiva de que não se tratam apenas de artes meramente decorativas, fica mais fácil compreender a importância delas no home decor.
Nesse sentido, fica claro que o Caminho do Meio não é passivo ou neutro. Afinal, o equilíbrio é proposto pelo movimento, pois na filosofia budista nada é permanente, tudo está em constante transformação. E o mesmo vale para o seu templo particular.
Assim, para transformar a sua casa em um refúgio que inspire o equilíbrio proposto pelo Budismo é preciso pôr energia na prática contínua do Nobre Caminho Óctuplo. Isto é, tanto de dentro para fora quanto de vice e versa, já que a orientação do Decor Zen é sempre materializar o ideal.
Colocar uma estatueta de Buda meditando em um local estratégico, como ponto focal de um aparador ou em mesinhas laterais da sala de estar, por exemplo, não só enriquece a estética da decoração de interiores, mas também pode criar uma atmosfera harmoniosa favorável para as práticas de meditação.
É claro que, em nossa cultura, é mais identificável a imagem de Hotei (ou Budai), o Happy Buddha que inspira prosperidade e boa sorte. Contudo, cada estatueta apresenta uma simbologia especial e adentrar todos os aspectos de cada imagem faz com que se torne mais fácil escolher a que combina com o seu propósito e momento de vida.
Fica implícito como a beleza e a energia da arte budista pode guiar a sua jornada.Desse modo, cultivar o zen em um ambiente decorado não apenas encanta os olhos, mas também nutre diariamente o seu interior.
Gashô!